Sevandija: investigado diz que está sendo "julgado sem conhecimento técnico"
Ângelo Invernizzi disse que se sente perseguido, embora acredite que perseguição não seja motivada por razões políticas

Sevandija: investigado diz que está sendo "julgado sem conhecimento técnico"

O ex-secretário da Educação de Ribeirão Preto, Ângelo Invernizzi Lopes, presta depoimento no Fórum de Ribeirão nesta quarta-feira, 22

O ex-secretário da Educação de Ribeirão Preto, Ângelo Invernizzi Lopes, investigado na Operação Sevandija, pediu um julgamento técnico ao juiz da 4ª Vara Criminal, em depoimento nesta quarta-feira, 22, no Fórum de Ribeirão Preto.

O ex-secretário, que cumpre prisão domiciliar, chegou ao Fórum munido. Ele trazia uma caixa com o processo e outros documentos, para apresentação ao juiz, em sua defesa. Invernizzi é investigado por fraudes em licitações e responde o processo que apura o esquema entre a Coderp-Atmosphera, para prestação de serviços terceirizados ao município.

Ele afirmou, ao longo do depoimento, que os réus estão sendo julgados com desconhecimento técnico e tratou de levar cartões com anotações, para explicar aos promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público, como funcionam a licença de licitação e o Plano Municipal de Educação, que foi formulado pela secretaria em sua gestão - porém ainda não aprovado. “Me sinto mais à vontade de me explicar como se eu estivesse dando aula”, comentou o ex-secretário.

“Estamos sendo julgados com tamanho desconhecido técnico. Há muitos enganos neste processo. O Ministério Público está em seu papel, mas tenho que ser julgado na linha técnica”, declarou Invernizzi, que disse que não tem como ter influenciado nos processos licitatórios, pois a pasta em que estava à frente no fim do governo Dárcy Vera não era responsável pelas compras e que as definições passavam pela comissão de licitações e pela Secretaria de Administração.

“Eu não sou o ordenador da despesa, e consequentemente, eu não faço parte da instrumentalização do contrato de prestação de serviços”, afirmou.

Invernizzi ainda se explicou sobre os grampos telefônicos realizados pela Polícia Federal. Sobre uma conversa em que a esposa o avisa a respeito da deflagração da operação, ele diz que estava na casa dos pais e prontamente foi até a Secretaria da Educação se apresentar aos agentes da polícia. Já interpelado a respeito de conversas sobre indicações de funcionários para atuarem nas escolas do município, ele afirmou que todos os contratados, inclusive terceirizados, passavam por um processo de seleção.

“Em um desses processos seletivos, recebemos na secretaria 30 currículos, mas apenas seis foram aprovados. Às vezes, a pessoa poderia ter capacitação para ocupar o cargo, mas na avaliação dos psicólogos e pedagogos, para saber se poderiam trabalhar com crianças, era reprovada”, disse o réu.

“A Atmosphera também poderia selecionar quem ela contratava, como já o fez”, relatou Invernizzi, que disse que os breves contatos com Marcelo Plastino, dono da Atmosphera, morto em novembro de 2016, eram para discussões sobre o contrato de prestação de serviços, embora ele garanta que seguia todos os tramites legais.

“Houve alguns aditamentos nos contratos, mas isso era natural. A Secretaria de Educação cresceu durante o governo Dárcy Vera. Foram 22 novas escolas, e outras 20 passaram por reformas de ampliação. Isso gerou demanda de todos os tipos, como cabeamento de fibra ótica, locação de computadores, além da criação de mais de 20 mil vagas. Ela cresceu em um todo”, afirmou.

Perseguição

No depoimento, Ângelo Invernizzi disse que se sente perseguido, mas não politicamente, como declararam outros réus da Sevandija.

“Há uma série de equívocos. Eu me acho vítima de perseguição. Não acredito ser política. Afinal, me parece uma aberração que o governador Geraldo Alckmin [PSDB, de São Paulo] tenha se encontrado com o Ministério Público para articular isso” comentou o ex-secretário, que apontou que a perseguição partiria de um dos agentes da Polícia Federal, casado com uma ex-funcionária da Coderp, cujo pai teria se candidatado a assumir a pasta da Educação antes de Invernizzi.

O motivo da desavença seria que ele teria defendido a antecessora, Débora Vendramini, em manifestações dos professores da rede municipal, o que, de acordo com Invernizzi, teria causado desavenças com essa funcionária.

Esse argumento foi apontado por outros réus no esquema durante os depoimentos. Porém, o Ministério Público acredita que seja uma estratégia da defesa para tentar deslegitimar o processo. Entretanto, os advogados sequer entraram com qualquer requerimento questionando o assunto.


Foto: Arquivo Revide

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