Depois de furto e discussão, diretor de museus é exonerado
Daniel Basso diz ter sido vítima de assédio moral no Plantão Policial; secretário municipal acusado afirma que furto ao local foi “armado”
Seria uma ocorrência apenas policial. Um furto aparentemente simples, muito embora os produtos furtados façam parte da história do café em Ribeirão Preto, que enriqueceu pessoas e instituições empresariais. Mas ganhou contorno político com direito a entrevistas acusatórias e a exoneração de um nomeado em cargo em comissão da Secretaria da Cultura.
O furto em questão pode ter ocorrido na madrugada de domingo, mas não é esta uma informação precisa. O fato foi registrado como furto ao Museu do Café. Foram levadas várias armas, incluindo fuzis e espadas. Os objetos, no entanto, não estariam catalogados no museu e ficava em um porão pouco frequentado.
Segundo o então diretor dos museus Histórico e do Café, Daniel Basso, exonerado na tarde desta segunda-feira, 6, um funcionário descobriu o furto neste domingo, 5. “O furto pode ter ocorrido ontem, porque a porta estava arrombada, mas encostada. E é um local onde os funcionários vão muito pouco e não há visitação, porque fica no porão”, disse ele, já depois de sua demissão.
Ele contou que foi ao Plantão Policial registrar o Boletim de Ocorrência do furto e teria sido assediado moralmente pelo secretário de Obras Públicas, Abranche Fuad Abdo, que é marido da secretária da Cultura, Dulce Neves.
“Você não faz ideia do que passei lá. Esse secretário que nem conhecia gritou comigo e disse que não tenho noção de hierarquia. Ele é que não tem, porque eu não era subordinado a ele”, comentou Daniel.
O ex-diretor contou que trabalham nos museus cerca de dez detentos de bom comportamento. Estes homens trabalham, de acordo com Daniel, em serviços braçais, como capina e limpeza dos pátios.
Ele garante, no entanto, que o acordo para o trabalho dos condenados não foi feito por ele e que quando assumiu a direção dos museus eram cerca de 50 os presos que prestavam serviço lá. Por esta situação ele teria sido acusado de irresponsável.
“Não fui eu que fiz acordo com a central de penas, mas achava bom o trabalho dos presos, porque os museus não têm funcionários suficientes”, apontou.
“Roubo armado”
O secretário Abranche Fuad Abdo não confirma ter discutido com Daniel, mas afirma que lhe chamou a atenção em função do roubo e da falta de vigilância na madrugada, além do fato de presos trabalharem no local. “Lá foi armado um roubo. Fui eu quem chamei a polícia. E fui acompanhar minha esposa porque ela não ia ficar andando à noite sozinha”, afirmou Abranche.
O secretário afirma ter testemunhas da discussão ocorrida, incluindo o delegado, que ouviram a conversa. “O que tive com este senhor foi uma conversa de homem pra homem. Nada além disso”, assegurou.
Mas foi também ele quem afirmou que o agora ex-diretor dos museus não obedece a ordens. “A Dulce (Neves, secretária da Cultura) já o chamou quatro vezes para conversar e ele não foi”, afirmou.
Insubordinação
A Prefeitura de Ribeirão Preto informou, em nota, que o diretor foi exonerado por insubordinação e que uma museóloga irá ocupar a direção dos museus. Veja a íntegra da nota.
"O Daniel Basso foi exonerado por insubordinação, porque ele não tinha conhecimento das escalas dos funcionários, não sabia que seu funcionário havia saído mais cedo, não fez catalogação das peças do museu, por isso o departamento de patrimônio tem que fazer um levantamento para saber quais peças temos. Não houve assédio moral e tem testemunhas sobre o ocorrido. Ele se exaltou na delegacia.
O que pesou na exoneração foi a falta de cooperação dele com as questões do museu. A secretária Dulce Neves solicitou por e-mail diversas reuniões para falar sobre as questões do museu, mas ele se recusou todas as vezes porque dizia que queria ser promovido e só iria até a Secretaria depois disso.
Estávamos contratando uma museóloga para compor a equipe, mas como o Daniel foi exonerado, ela irá ocupar o lugar dele".
Atualizado às 18h07 para incluir a resposta da Prefeitura
Foto: Divulgação
