Médicos do HC detalham 2º caso de separação de gêmeas siamesas, em Ribeirão Preto
Procedimento contou com a participação de 40 profissionais, neste sábado, 6

Médicos do HC detalham 2º caso de separação de gêmeas siamesas, em Ribeirão Preto

Irmãs Allana e Mariah passaram por primeira cirurgia neste sábado, 6

Os médicos do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto detalharam, em entrevista coletiva na manhã desta segunda-feira, 8, o mais novo caso clínico de separação de gêmeas siamesas. As irmãs Allana e Mariah, de 1 ano e 8 meses, nasceram com os crânios grudados e passaram pela primeira cirurgia de craniotomia no HC Criança neste sábado, 6, que teve 9h30 de duração e foi bem-sucedida.

 

É o segundo caso do tipo conduzido pelo HC de Ribeirão Preto; o primeiro foi em 2018 (leia mais ao final da matéria). As crianças ainda não estão totalmente separadas; o procedimento deve ser completado até junho de 2023.

 

Allana e Mariah nasceram no HC Criança em novembro de 2020, mas a família é natural de Piquerobi, na região de Presidente Prudente, também no interior de São Paulo. A união das gêmeas pela cabeça foi detectada e diagnosticada, ainda, durante a 10ª semana de gestação das gêmeas, há dois anos, e acompanhada pela equipe clínica do hospital desde então. 

 

Neste sábado, 6, as irmãs foram submetidas a uma neurocirurgia para a separação de pequenas veias no cérebro. O procedimento começou às 7h30 e terminou às 17h, com a participação de 40 médicos, enfermeiros e pessoal de apoio dos departamentos de Neurocirurgia Pediátrica e Cirurgia Plástica.

 

As irmãs agora estão na UTI Pediátrica do HC Criança, com previsão de transferência para a enfermaria em até uma semana. A sensação para os pais de Allana e Mariah é de alívio e alegria. "Estamos com o coração bem aliviado, nossas filhas estão em ótimas mãos. É uma equipe maravilhosa que nos acompanha desde o início e nos passa uma total segurança", diz Talita Francisco Cestari, mãe. "Elas estão bem, graças a Deus, brincando, conversando conosco e comendo", diz Vinícius dos Santos Cestari, pai das gêmeas.

A preparação

Antes da cirurgia, as irmãs passaram por diversos exames clínicos, já que o caso é extremamente raro (1 a cada 2 milhões de nascimentos em todo o mundo). O crânio e o cérebro das meninas foi mapeado através de tomografias e moldes feitos em impressoras 3D, que permitem uma visão ampla das artérias e veias sanguíneas.

 

Para este caso, um óculos de realidade virtual também foi utilizado em parceria com uma empresa do Supera Parque, com sensores que simulam o ambiente da sala de cirurgia e possibilitam indicar as incisões a serem realizadas no crânio de Allana e Mariah. O equipamento foi usado apenas no planejamento da cirurgia e não nos procedimentos reais de separação das gêmeas.

 

A equipe médica envolvida no procedimento de separação das gêmeas passou por diversas reuniões e análises dos exames e dos moldes antes da primeira cirurgia, neste sábado, 6. Por conta da pandemia de COVID-19, as cirurgias acabaram atrasando. "A grande mudança foi proporcionada pelos modelos, que permitem que os médicos peguem o crânio e escolham as veias corretas. Permitem que se estude individualmente cada uma das meninas, diminuindo a possibilidade de erros", afirma o professor e médico neurocirurgião Hélio Rubens Machado, um dos responsáveis pelo caso.

 

Ao todo, serão quatro cirurgias de craniotomia para a separação das meninas, todas com um intervalo de três meses entre cada procedimento. A próxima etapa está prevista para o mês de novembro. "[O intervalo] É necessário para que a vasculatura das crianças se desenvolva e haja uma adaptação do cérebro", afirma a professora e médica pediatra Ana Paula Carlotti.

 

Primeiro caso: Maria Ysadora e Maria Ysabelle

 

O primeiro e único caso como esse em Ribeirão Preto foi o das gêmeas cearenses Maria Ysabelle e Maria Ysadora. As irmãs, também unidas pela cabeça, foram operadas em 2018 pela equipe do HC, comandada pelo doutor Machado.

 

Para auxiliar no procedimento, Machado contou com a ajuda do neurocirurgião norte-americano James Goodrich, referência mundial no assunto, que faleceu em 2020, vítima da COVID-19. O médico estadunidense acompanhou as cirurgias das siamesas desde o planejamento. 

 

À época, foram realizadas cinco cirurgias diferentes até a separação completa das gêmeas, em outubro de 2018. Uma das irmãs, Maria Ysabelle, passou por um sexto procedimento para enxerto de pele na região da nuca. As meninas tiveram alta em dezembro do mesmo ano e retornaram ao Nordeste em março de 2019. 

 

Atualmente, Maria Ysabelle e Maria Ysadora têm um pequeno atraso que já era esperado, de acordo com Machado. “Mas elas andam, têm uma excelente relação com a família, vão na escolinha, tudo o que nós queremos, que elas sejam reintegradas na sociedade”, destacou o professor, em entrevista ao Portal Revide no dia 4 de abril.


Divulgação/HCFMRP

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