Solos nem é tão Black Mirror

Solos nem é tão Black Mirror

A aposta nos monólogos chama a atenção

 

As antologias se provaram meu formato de série favorito. Claro que você já sabe que uma antologia é uma coleção de obras literárias, musicais ou audiovisuais agrupados por temática, autoria ou período, especialmente se você leu meu artigo sobre Love, Death & Robots, uma antologia de animação da Netflix. Você também já pode ter acompanhado meus comentários sobre os episódios A Penny for Your Thoughts e The Shelter, da série americana The Twilight Zone, exibidos originalmente em fevereiro e setembro de 1961, respectivamente, o que mostra que eu já gostava do gênero muito antes de ser modinha.

Me parece que as antologias ganharam a atenção do público com a série Black Mirror, da Netflix, que se tornou referência sempre que a tecnologia traz à tona questões morais, principal assunto da série, que explora um futuro em que a natureza humana e a tecnologia entram em conflito. A série também se tornou referência ao formato antológico, ou seja, cada episódio é independente, não havendo uma narrativa principal que reúne todos os episódios. Black Mirror estreou em 2011 com uma primeira temporada de três episódios e hoje conta com cinco temporadas, sendo a mais recente lançada em 2019.

Já em 2021, a Amazon Prime Video lançou a série Solos, uma antologia de sete episódios. Por tudo o que Black Mirror representou a comparação entre elas é muito comum, embora Solos não seja tão Black Mirror assim. Para começar, a Prime Video apostou nos monólogos, o que me chamou muita atenção no primeiro momento. É que os episódios são gravados, cada um, com um único ator. E não quaisquer atores, o primeiro episódio é com Anne Hathaway e o último episódio é com Morgan Freeman, por exemplo.

Aliás, a Prime Video já havia apostado em grandes atores para antologias, como fez na série de oito episódios Modern Love, que contou com Andy García, Dev Patel, Tina Fey e a queridinha Anne Hathaway também. A série foi sugestão para o Dia dos Namorados.

Solos tem uma narrativa muito mais emocional do que Black Mirror e não é, necessariamente, uma crítica a tecnologia, como a série da Netflix. Por se passar em monólogos, não é uma série que irá agradar todos os públicos, podendo ser considerada muito “parada”, o que não é ruim por si só, mas muitas pessoas não gostam desse tipo de obra. Eu, por outro lado, escolhi o terceiro episódio como meu favorito. Intitulado PEG, o episódio nada mais é do que a personagem sentada contando uma história, que é incrível, seja pela narrativa, seja pela excepcional atuação de Helen Mirren, que tem em seu currículo um Oscar, quatro Emmy’s, um Tony, três Globos de Ouro, além de diversas indicações e outros prêmios.

Solos apostou ainda em uma pequena relação entre os episódios, o que se opõe ao formato de antologia. É possível assistir os episódios de forma independente, embora assistir na ordem proposta torne a experiência ainda melhor. Black Mirror fez o mesmo no episódio Black Museum da quarta temporada, quando a série já não ia muito bem. Solos traz essas pequenas referências desde o início e é divertido identificar essas relações enquanto assiste aos episódios, o que causa uma maior imersão no universo proposto.

Solos é uma das melhores indicações para quem não quer se comprometer com uma série muito longa e que não tem tempo de “maratonar”. As histórias são interessantes e se desenvolvem bem (com exceção de um episódio), se propondo a responder questões voltadas a individualidade humana, que são feitas bem no início de cada episódio. Vale a pena assistir!

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