
Mães pesquisadoras: Simone Kashima Haddad
Mãe de Laura, 20 anos, e Amanda, 14. Pesquisadora sobre doenças infecciosas, principalmente as que têm impacto na transmissão transfusional
Farmacêutica bioquímica formada pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP Ribeirão, a veterana Simone Kashima Haddad, 53, tem mestrado, doutorado e pós-doutorado pela Faculdade de Medicina da USP Ribeirão e acumula 30 anos de experiência como pesquisadora científica e tecnológica do Hemocentro de Ribeirão Preto. Ela estava à frente do laboratório que desenvolveu os testes de detecção da covid, quando a pandemia chegou à cidade, em 2020.
De Marília (SP), Simone também veio para Ribeirão estudar, em 1991, e aqui casou (em 1999) e ficou seguindo a carreira acadêmica – sempre teve inclinação para a pesquisa, desde a graduação. A primeira filha chegou quando ela finalizava seu doutorado. “Foi desafiador defender com uma criança pequena, tendo que preparar aula, material, amamentar. A apresentação consome 4 ou 5 horas de defesa, então eu tive todo um esquema, previamente combinado com a banca, de sair para amamentar caso minha filha chorasse”, lembra.
Seis anos depois, após a perda de uma segunda gestação, veio a segunda filha. Simone já estava numa situação profissional mais estável. Nos dois casos, sua rede de apoio nunca deixou de lhe dar suporte. Incluía seu marido, os sogros, seus pais, nos primeiros anos uma babá e uma pessoa que transportava as meninas. Quando tinha uma viagem, um congresso ou um treinamento para participar, Simone deixava tudo combinado em família antes de reservar e comprar passagens. Ela e o marido sempre tiveram um combinado neste sentido, o que foi essencial para sua carreira profissional deslanchar. “A parceria com meu marido foi fundamental! Ele sempre participou, ficando com as crianças quando necessário”, conta.
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Ainda assim, Simone confessa ter havido momentos em que achou que não daria conta de ser mãe e continuar profissional, como quando surgia alguma questão de saúde. “A gente fica sem chão quando uma criança fica doente. Mas talvez por eu ser da área da saúde, sempre levei isso de forma mais tranquila. É importante ter esse equilíbrio”, diz.
Já as invasões do trabalho são “inevitáveis”, já que a atividade de pesquisa é dinâmica, tem muita informação envolvida, demandando estudo e leitura constantes. E tudo tem prazo. Os da instituição e os projetos de pesquisas vinculados a órgãos de fomento, que estabelecem datas para iníco e término. “Então, temos que ter esse ajuste para fazer um bom uso do recurso financeiro disponibilizado, assim como ter resultado que contemple os questionamentos apresentados no projeto. E isso é uma pressão!”, afirma Simone.
Ela confessa que até hoje, já dias em que sai do trabalho tão esgotada mentalmente que nem consigo ler, uma atividade que também gosta de fazer por lazer. “Mas procuro não levar meus problemas pessoais para o trabalho. Até porque tenho cargo de coordenação de equipe. Se a coordenação está mais ou menos, os coordenados também ficam. Uma pessoa desanimada, desanima as outras. Não que a gente consiga deixar tudo lá fora. Há o comentário sobre a filha que está doente, alguma preocupação, mas não existe isso de ‘ah, não estou fazendo nada porque estou mal’”, declara.
Como as filhas cresceram com pais trabalhando, Simone acha que suas meninas veem essa dinâmica de família como a normal. “E acho que elas têm na gente um modelo. Vemos que sentem um orgulho disso. A escola da minha caçula me convidou para dar uma aula lá e ela está se achando! [risos]”, brinca a mãe-pesquisadora antes de emendar a sério: “Sempre falo para elas que conhecimento é a única coisa que ninguém tirar da gente. Falo sempre para lerem um bom livro, alguma coisa que ninguém lê, que fiquem até mais tarde nos estágios, nas aulas, que estudem mais. Porque isso é o que elas vão ter para a vida”, finaliza.
Qual a maior dificuldade de ser uma mãe pesquisadora?
“Ser mãe e pesquisadora significa enfrentar desafios diários (p. ex. mais tempo para estar em família, estar presente nas atividades dos filhos, etc., pois exige atenção constante, especialmente quando são pequenos. Conciliar a trajetória profissional com a maternidade foi desafiadora, porém o suporte familiar e uma rede de apoio pode tornar a jornada mais organizada e segura. A satisfação de ter superado obstáculos e ainda estar engajada na carreira é gratificante. Estou certa de que os filhos sentem a nossa realização na profissão, e de alguma forma, nos tornamos um exemplo.”
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Foto: Hugo Saponi