Mães pesquisadoras: Virgínia Picanço e Castro

Mães pesquisadoras: Virgínia Picanço e Castro

Mãe de Laís, 15 anos, e Natalia, 11. Pesquisadora em produção de células Car-T, usadas no tratamento contra o câncer

Se a algo impressionante sobre a mãe-pesquisadora Virgínia Picanço e Castro é o fato de não ter abandonado nenhum plano profissional por conta da maternidade. Mas só ela sabe o quanto foi difícil manter seus papeis de mãe e pesquisadora sem abandonar nenhum.


Natural de Brasília, Virginia é outro caso de estudante que chegou a Ribeirão para cursar faculdade, casou e ficou. Formada em Ciências Biológicas pela USP, hoje é pesquisadora científica e tecnológica no Hemocentro, com doutorado em Ciências Biomédicas e pós-doutorado pela USP Ribeirão e MBA em Gestão da Inovação e Capacidade Tecnológica pela FGV (Faculdades Getúlio Vargas).


Conheceu o marido no ambiente acadêmico, quando ambos haviam acabado de retornar de intercâmbios – ela na Alemanha, ele na Holanda. Casaram-se quando ela tinha 24 anos e fazia doutorado. Engravidou aos 29, em 2008, quando ela e o marido estavam concluindo pós nos Estados Unidos. Chegaram a pensar na possibilidade dela dar à luz por lá, mas ela não quis fazê-lo longe de sua rede de apoio brasileira. Voltou sozinha para o Brasil no oitavo mês de gravidez.


Como toda “mãe de primeira viagem”, Virginia enfrentou muitas dificuldades. A primeira, o fato de, à época, sua bolsa do pós-doc não prever ainda licença-maternidade. Então teve que voltar a trabalhar quando Lais tinha apenas um mês de vida. Sorte que no Hemocentro, onde trabalha, sempre houve muito apoio às mães-pesquisadoras. “Tem muita mulher aqui. E eu tinha uma moça em casa que me ajudava. Então eu dava de mamar, vinha para cá, voltava para casa na hora do almoço para amamentar, tirava bastante leite para deixar nas mamadeiras e vinha trabalhar de novo. Estava sempre cansada”, lembra. Sorte também que teve muito suporte dos sogros, que moram em Ribeirão, e dos pais, que vinham bastante a Ribeirão para ajudá-la. 

 

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A segunda gestação veio em 2012. A entrada da caçula Natalia na escolinha foi mais rápida, aos cinco meses de idade, o que a rendeu a Virginia muitas críticas e questionamentos do tipo: “Será que você precisa trabalhar?”, “Você está deixando de cuidar de uma criança para poder trabalhar!”. Para suportar, lembrava das muitas mulheres da USP que viu passarem pelas mesmas coisas e se dizia: “elas conseguiram passar por isso, então eu também consigo. Vai dar tudo certo!”. 


Virginia aponta como maior desafio como mãe-pesquisadora terem decidido voltar para os Estados Unidos para se atualizarem em suas carreiras, levando as duas meninas, que tinham, então, 8 e 5 anos de idade. Sem a rede de apoio por perto, tanto o casal teve que se adaptar ao novo trabalho, quanto as crianças à nova escola, e em outra língua. “O começo lá foi muito puxado, porque a mais velha teve um pouquinho de inglês antes, mas a mais nova, zero, então não sabia nada do idioma. Ela foi alfabetizada nos Estados Unidos. E aí foi uma confusão, mas hoje elas percebem que aquelas dificuldades renderam bons frutos. As duas são fluentes em inglês e ainda têm amigas lá, que a gente volta visitar de vez em quando, para elas matarem saudades”, conta a mãe.


Ela acredita que trabalhar fora de casa é difícil para qualquer mãe, mas no caso de uma pesquisadora, que requer atualização constante, implica viagens para participação em congressos e cursos, por exemplo. E nem pensar em dar uma pausa na carreira, pois a área é muito competitiva. “Os projetos estão na ponta do conhecimento, por isso não param. Então penso: ‘se eu parar, como volto? Como o mercado vai me ver? Vou ter que dar um jeito de continuar trabalhando’”, reflete.


Lais e Natalia nunca se queixaram à mãe por ela trabalhar. “Para elas é normal, porque sempre foi assim. Então desenvolveram uma autonomia. Hoje chegam em casa e se viram. Espero que não reclamem no futuro [risos]”. Hoje em dia está tudo bem mais fácil de conciliar e Virginia não se arrepende de nada, nem das fases mais difíceis. “Ser mãe é maravilhoso! Complementa a gente e nos ensina muita coisa”, derrete-se.

 

Qual a maior dificuldade de ser uma mãe pesquisadora?

 

“A maior dificuldade de ser uma mãe pesquisadora é conciliar as responsabilidades profissionais e familiares, equilibrar o tempo necessário para realizar pesquisas de qualidade com as demandas dos filhos é sempre desafiador! Envolve gerenciar prazos de publicações, participação em conferências e projetos de pesquisa, ao mesmo tempo em que precisamos dedicar tempo suficiente para os filhos, apoiar seu desenvolvimento e estar presente em suas vidas. Essa dupla jornada demanda uma boa organização, apoio da família e do ambiente de trabalho.”

 

Confira a sexta e última matéria desta série neste link.


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Foto: Hugo Saponi

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