Entrevista: Rosana Amadeu, a primeira mulher à frente do CEISE Br
‘O mundo precisa urgente de uma matriz energética renovável’, diz Rosana

Entrevista: Rosana Amadeu, a primeira mulher à frente do CEISE Br

A diretoria executiva do Centro Nacional das Indústrias do Setor Sucroenergético e Biocombustíveis fala sobre sua trajetória e futuro do setor

Ela cresceu na colônia da Usina São Martinho, em Pradópolis (SP), onde seu pai era motorista de caminhão. Desde cedo, a vida no setor sucroenergético a encantou. Aos 14 anos, a família se mudou para Sertãozinho e sua ligação com a cana-de-açúcar se fortaleceu. Aos 17, foi trabalhar na Zanini. Depois de uma passagem pela Usina Santo Antônio e de 14 anos como funcionária da Nossa Caixa, Rosana Amadeu e o irmão criaram a TransEspecialista, uma empresa focada na operação logística do setor sucroenergético. O negócio cresceu e há mais de dez anos ela atua como diretora da Telog Soluções Integradas. Desde 2017, faz parte também da Diretoria Executiva do Centro Nacional das Indústrias do Setor Sucroenergético e Biocombustíveis - CEISE Br, onde já ocupou cargos de diretora financeira e diretora secretária. Acumulou experiência em sistema de gestão interna e demandas do setor para se tornar a primeira mulher no comando da entidade, durante a gestão 2023 e 2024. Leia a seguir sobre sua atuação:

Pela primeira vez, em 44 anos de fundação, o CEISE Br tem uma mulher no comando. Como tem sido essa experiência?
Estar à frente da presidência do CEISE Br tem sido uma experiência profundamente enriquecedora e desafiadora, principalmente porque, quando assumi, tínhamos um cenário de pós-pandemia de covid-19, que nos forçou um processo de reestruturação. Com ainda mais determinação, focamos em otimizar nossas operações e fortalecer nossa atuação em defesa dos interesses das empresas do setor sucroenergético e de biocombustíveis. Com a colaboração de todos os membros da nossa diretoria, estamos comprometidos em promover a inovação, a sustentabilidade e a competitividade de toda a cadeia bioenergética, e garantir que o CEISE Br continue sendo uma voz forte e representativa para suas associadas. É um privilégio liderar essa transformação e contribuir para o posicionamento e expansão do setor.

Quais pontos destaca em sua trajetória como essenciais para alcançar sua atual posição e o que foi mais desafiador?
Conciliar os papéis de liderança corporativa e institucional com as demandas familiares e atribuições de mãe, sem perder a fé em Deus e sempre acreditando que o melhor está por vir, foi o mais desafiador, mas manter o entusiasmo e a motivação é essencial para continuar a caminhada em prol do bem comum. Nesta trajetória, destaco o romper barreiras de um setor essencialmente masculino; a persistência para não desistir do sonho de fazer a diferença para nossa cidade e setor; a humildade para aprender com as adversidades e o conjunto de crenças e valores focado no trabalho em equipe.

Dos projetos que pretendia dar andamento e implementar em sua gestão, o que pode considerar realizado no primeiro ano de trabalho?
Desde a posse da nova diretoria, trabalhamos para implantar um modelo de gestão baseado em algumas prioridades, como o fortalecimento da representatividade da instituição, o foco na diversidade e sustentabilidade, e a busca de oportunidades neste período de transição energética. Tivemos inúmeras conquistas, como novos benefícios para associados, presença nos maiores eventos do setor, e recebemos premiações por nossa atuação à frente da nossa indústria. Fomos protagonistas na discussão e construção de diferentes políticas públicas, visando beneficiar todos os elos dessa cadeia, como a concretização do APL Metalmecânico de Sertãozinho – acabamos de ser reconhecidos pelo Governo do Estado como a nova governança do APL.

Algo em especial a destacar?
Importante dizer que, embora estivéssemos numa fase de recuperação pós-pandemia, realizamos muitas ações importantes para as indústrias neste primeiro ano, principalmente uma edição excepcional da Fenasucro & Agrocana, evento que mostra a grandeza e potencial de um setor que está pronto para buscar as oportunidades que a bioenergia nos oferece, como biogás, biometano e o hidrogênio verde. Não foi por acaso que escolhemos a transição energética como prioridade. O Brasil e o mundo se deparam com a necessidade urgente de se adotar uma matriz energética mais limpa e renovável. O CEISE Br trabalha incansavelmente para mostrar o quanto nossas indústrias estão preparadas para atender a esse processo. As empresas do setor, nas mais diversas regiões do país, oferecem serviços e produtos de ponta, provando que já contribuem com esse processo de transição. Por isso, essas empresas merecem nosso apoio para darem continuidade a esta missão: construir uma matriz energética mais verde e sustentável.


Conseguiu avançar na pauta do RENOVABIO (programa de incentivo à produção de biocombustíveis), em que sentido?
Por ser um programa de governo, qualquer mudança ou avanço no RENOVABIO envolve muitas entidades e organismos oficiais, tornando o processo mais lento do que se deseja. O que defendemos é que os valores auferidos pelas unidades produtoras através dos CBIOs sejam, obrigatoriamente, reinvestidos na melhoria, na atualização dos equipamentos, na modernização e ampliação das plantas produtoras, fomentando o volume de encomendas das nossas associadas. Recentemente, foi fechado um acordo entre as indústrias produtoras de etanol e bioenergia e os fornecedores de cana-de-açúcar do Brasil para remunerar com Créditos de Carbono (CBios) a classe produtiva, que até então não participava dessa distribuição financeira.

Qual a proposta e expectativa do CEISEBr relacionada à ‘Lei do Aço’, e o que ela representa em termos econômicos e ambientais?
presentamos uma proposta inspirada na legislação do Rio de Janeiro, objetivando estimular o crescimento e a competitividade do setor metalmecânico paulista. Essa lei propõe a concessão de incentivos fiscais e a criação de um ambiente regulatório mais favorável, com a redução da alíquota do ICMS para produtos siderúrgicos, diminuindo os custos de produção das empresas do setor de bens de capital, o que reflete na atração de investimentos e consequente geração de empregos e desenvolvimento tecnológico, além de fortalecimento da competitividade das indústrias tanto no mercado nacional quanto no internacional. A “Lei do Aço” é uma proposta estratégica para impulsionar o desenvolvimento do setor de bens de capital em São Paulo, gerando impactos positivos em diversos setores da economia, como o sucroenergético.

Principalmente neste momento, com tudo o que estamos vivendo no Brasil, a temática da transição energética ganha prioridade. Como avançar?
A transição para uma matriz energética mais limpa e a redução das emissões de gases de efeito estufa se tornaram metas prioritárias em todo o mundo. Nosso principal objetivo é promover um futuro mais sustentável e resiliente do ponto de vista ambiental, econômico e social. Assim, matérias como estruturação de uma política industrial eficiente e compatível com a realidade do nosso setor, inserção de recursos energéticos distribuídos, inovações tecnológicas e competitividade em diferentes mercados são fundamentais para as questões energéticas que impactam toda a cadeia produtiva. Temos articulado com outros atores setoriais a promoção de um ambiente que fomente a inovação em produtos, serviços e processos, criando oportunidades para a reindustrialização e elevando o Brasil como protagonista na transição energética global.

Nos próximos cinco anos, o que será essencial às empresas, em termos de sustentabilidade e negócios?
Estarmos alinhados com conceitos de ESG e com buscar contribuir para a agenda 2030 e os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU, porque entendemos tratar-se de uma pauta crucial para a humanidade: pessoas, planeta, prosperidade e paz. Também é importante o engajamento com o governo federal, no que se refere à Missão 5 do Nova Indústria Brasil (programa de política industrial do país), que trata de “Bioeconomia, descarbonização e transição e segurança energéticas para garantir os recursos para as futuras gerações”. O Nova Indústria Brasil oferece um leque de oportunidades para o avanço tecnológico e competividade das nossas indústrias, dentro e fora do país, o que, consequentemente, vai impactar toda a sociedade, por meio do desenvolvimento econômico, com a geração de empregos e renda, e de melhorias em diferentes perspectivas sociais, como saúde, segurança alimentar, meio ambiente, entre outras. Os pilares acima nortearão nosso APL Metalmecânico Bioenergético.

O que a 30ª edição da FENASUCRO apresenta de novidades?
Destacando a força e a representatividade do setor bioenergético na transição energética global, a 30ª edição da Fenasucro & Agrocana espera superar os R$ 8,3 bilhões em negócios gerados no ano passado e continuar sendo o principal ponto de encontro para a apresentação de novas tecnologias e tendências. A edição comemorativa já está com a planta interna 100% vendida e conta com a abertura de 20 novas áreas externas. Durante os quatro dias de evento, um público qualificado de empresários e profissionais dos setores de alimentos & bebidas, papel & celulose, biodiesel, usinas de bioenergia, geradores de bioenergia, usinas de etanol & açúcar, e usinas de etanol de milho, além de visitantes de 53 países, poderá conferir mais de 3 mil produtos de marcas nacionais e internacionais, distribuídos por cinco macrossetores: bioenergia, agrícola, transporte & logística, indústria e energia. Além disso, o evento contará com mais de 100 horas de palestras e workshops, com a presença de grandes e renomadas instituições e empresas ligadas ao setor, como Stab, Datagro, Unica, entre outras. As tradicionais rodadas de negócios internacionais também estarão presentes, atraindo compradores interessados em produtos de todos os elos da cadeia produtiva.

 

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