Vereador Isaac Antunes vira réu em processo de compra de votos

Vereador Isaac Antunes vira réu em processo de compra de votos

Justiça Eleitoral acatou a denúncia feita pelo Ministério Público

A Justiça Eleitoral aceitou a denúncia feita pelo Ministério Público (MP) contra o vereador Isaac Antunes (PL) sobre um possível crime eleitoral nas eleições de 2016. Com isso, a partir de agora, o vereador passa a ser réu no processo.

De acordo com o MP, Antunes teria se beneficiado politicamente de um esquema de compra de votos. Além do vereador, outras seis pessoas foram denunciadas por participarem do esquema, incluindo, o chefe de gabinete e uma assessora do parlamentar na Câmara dos Vereadores de Ribeirão Preto.

O vereador e os demais envolvidos, negam todas as acusações. "Recebo isso com muita serenidade, faz três anos que luto sem poder me defender em um devido processo legal. E agora, a história se reverte”, declarou Antunes em um vídeo nas redes sociais. Confira o posicionamento completo do parlamentar ao final da matéria.

Para compor a denúncia, que contém 80 páginas, os promotores Walter Alcausa, Leonardo Romanelli e Frederico Mellone de Carmago investigaram por 18 meses o possível envolvimento do movimento Muda Ribeirão, encabeçado por Antunes, com os investigados na Operação Têmis.

De acordo com os promotores, o esquema seria organizado e orquestrado por Antunes e teve início no final de 2015. Cerca de um ano antes do início da campanha eleitoral.

A partir de março de 2016, ainda segundo o MP, Antunes teria se encontrado com os advogados Klaus Philipp Lodoli, Renato Rosin Vidal e Gustavo Caropreso Soares – todos envolvidos na Operação Têmis –, na sede do Partido da República (PR), atual Partido Liberal (PL), em Ribeirão Preto.

Na reunião, ficou definido que o serviço "Limpe seu nome" seria utilizado na campanha do movimento Muda Ribeirão, com a finalidade de projetar o nome de Isaac Antunes e, assim, aumentar seu capital eleitoral.

O serviço "Limpe seu Nome" já era utilizado, de maneira ilegal, pelo escritório de advocacia dos investigados na Operação Têmis.

Vereador Isaac Antunes ao lado dos investigados na Operação Têmis

A iniciativa prometia que o nome das pessoas seria limpo em pouco tempo, sem nenhum tempo e a custo zero. Os promotores alegam que Antunes induzia as pessoas a acreditarem que, por intermédio dele, o nome das pessoas seria limpo em órgãos de proteção ao crédito.

Enquanto isso, os assessores do parlamentar colhiam assinaturas e documentos, bem como pediam votos para Antunes com a entrega de "santinhos".

Além disso, o telefone de contato impressos em banners e automóveis utilizados pelo grupo, "coincidentemente" possuía o mesmo final do número utilizado em campanha por Antunes. Além disso, os dígitos 22022 eram grafados em negrito e em tamanho maior que os demais.

Nos computadores dos escritórios dos advogados denunciados na Operação Têmis, foram localizadas informações dos projetos que participavam. Dentre eles, o Muda Ribeirão. Os arquivos contêm os dados das pessoas captadas pelo projeto. Somente em uma das planilhas, o nome do vereador aparece 1437 vezes.

Em outra planilha, localizada no mesmo computador, que tem o nome “Relação de Processos Clientes Isaac", os promotores verificaram que em nome das pessoas captadas foram propostas cerca de 1500 ações judiciais, a grande maioria sem que as vítimas soubessem. Esse era um dos móvitos da deflagração da Operação Têmis.

O MP também colheu o depoimento de testemunhas, que teriam fornecido os dados ao grupo. A maioria, mora em bairros periféricos da cidade, e confirmou que os envolvidos também realizavam campanha eleitoral.

Promotores apontam campanha eleitoral antecipada

Operação Têmis

A Operação Têmis foi deflagrada no dia 11 de janeiro de 2018, em Ribeirão Preto. A investigação apura possíveis golpes aplicados contra pessoas que possuíam restituições de valores perdidos em poupanças com a implementação do Plano Verão durante o governo do ex-presidente José Sarney. 

O escritório de advocacia colocava os processos em segredo de Justiça para que as vítimas não conseguissem consultá-los. Quando eles ganhavam a causa, o dinheiro era repassado diretamente ao escritório e repartido entre as empresas envolvidas. O que os promotores do MP suspeitam agora, é que os nomes captados pela campanha de Antunes também teriam alimentado esses processos.

Outro Lado

Na noite de terça-feira, 3, após a sessão na Câmara dos Vereadores, Isaac Antunes gravou um vídeo em seu gabinete no qual nega as acusações. O parlamentar também não escondeu a vontade de concorrer como vice-prefeito em uma possível chapa com Duarte Nogueira (PSDB).

"Recebo isso com muita serenidade, faz três anos que luto sem poder me defender em um devido processo legal. E, agora, a história se reverte. Nós vamos em frente, continuar um trabalho sereno e vou lutar, com o perdão da palavra, na área que mais conheço, modéstia à parte, que é a área intelectual. Não fujo dos meus anseios em ser pré-candidato a prefeito de Ribeirão Preto. Não recuo dos meus sonhos", declarou.

Ele garantiu ter fé de que tudo em sua campanha foi feito de maneira clara e honesta.

“Não tenho em absolutamente nada com a Operação Têmis. Meu nome não é citado sequer em uma linha do processos criminal. E respondo agora, sim, por um processo eleitoral, por uma possível compra de votos. Em nenhum momento colhemos cadastros e entregamos seja para quem for. O que fizemos, com a consciência tranquila, foi um movimento justo e honesto muito antes do período eleitoral [...]. Foram três anos de massacre midiático", concluiu.

Em contato com o vereador, ele declarou que, além do vídeo nas redes sociais, não irá comentar o caso, a não ser por meio de sua defesa nos autos do processo.


Imagens: Reprodução - Redes Sociais/MP

Compartilhar: